domingo, 12 de setembro de 2010

Acusação 2 (dissertação)

Amar é compartilhar emoções, doar-se, ter na pessoa amada alguém em quem confiar. Existem inúmeras formas de ver e sentir o amor, mas nenhuma delas tolera a infidelidade. A traição é imperdoável, e todos que já passaram por isso hão de concordar. Quando se fala do assunto “adultério”, na literatura brasileira, uma das obras mais conhecidas é a machadiana, Dom Casmurro. Nela encontramos indícios que evidenciam a traição praticada por Capitu.
O livro Dom Casmurro narra as circunstâncias que juntaram e separaram Bentinho e Capitu. Ele, de família rica, respeitava e amava sua família. Sem contar que era um homem profundamente apaixonado por Capitu, menina esperta e materialista, desfavorecida financeiramente, mas cheia de idéias e planos. Vizinhos desde crianças, mantinham uma relação de amizade que, em pouco tempo, tornou-se amor por parte dele e oportunidade de ascensão econômica e social, por parte dela. O fato de Capitu adorar andar pelas ruas de braços dados com seu marido a fim de que a sociedade visse os novos rumos que sua vida havia tomado, demonstra essa afirmação.
A protagonista Capitu apresentava como principais características de sua personalidade a  dissimulação e o poder de manipulação. A respeito de seus olhos, José Dias – homem agregado à família de Bentinho – fez uma definição interessante. Segundo ele, seus olhos eram de cigana obliqua e dissimulada. Interessa aqui recuperar a famosa frase de Leonardo Da Vinci segundo o qual “Os olhos são as janelas da alma”.
Exemplificar a facilidade de dissimulação da personagem é fácil, já que os fatos que demonstram esse aspecto do seu caráter estão presentes durante toda a narração. Um deles, em que a capacidade de dissimular tenha ficado mais evidente, é o episódio do penteado : Um dia, na casa de Capitu, Bentinho se prontificou a pentear os cabelos de sua amada e trançá-los. Enquanto o fazia, desejava a eternidade, desejava ter para sempre Capitu em seus braços.  Ao terminar seu dever, surpreendeu-se  quando ela não se levantou para verificar seu cabelo e apenas inclinou a sua cabeça e abrochou seus lábios. Como qualquer outro apaixonado, Bentinho beijou-a. Com um misto de vertigem, atordoamento e outras emoções confusas, separaram- se ao ouvirem que a mãe de Capitu estava se aproximando. Como em um piscar de olhos, Capitu estava rindo e mostrando o penteado para a mãe, como se nada acontecera. Enquanto ele, Bentinho, ainda não recomposto, calou-se, para não demonstrar seu nervosismo e estupefação.
É interessante também observar que a etimologia do nome “Capitu” traz evidências de sua personalidade: Capitu é hipocorístico de Capitolina, do latim Capitolium, relativo a Capitólio. Capitólio é do latim nome dado à colina de Roma onde estava situado o templo de Júpiter, divindade grega pertencente ao conjunto de deuses soberanos, que para governar usam recursos como o dom da astúcia, a capacidade de cegar, de ensurdecer, de paralisar os adversários. A escolha dos nomes dos personagens de uma história normalmente indica algo que o autor tenta passar aos seus leitores. Podemos inferir, portanto, que Machado de Assis quis revelar os traços da personalidade de Capitu, desde a escolha de seu nome.
Retornemos, agora, à história do livro. Bentinho, por causa de uma promessa de sua mãe, estava destinado a ir ao seminário, apesar de não ter vocação para a vida religiosa e de nutrir um sentimento grandioso por Capitu. No seminário, porém, conheceu Escobar, aquele que, apesar de ter se tornado seu melhor amigo, trairia sua confiança. Escobar – que também não possuía vocação religiosa – logo faz amizade com a família de Bentinho e com Capitu. A partir daí, indícios da traição aparecem constantemente. Começamos apresentando a relação entre Capitu e Escobar: tratavam-se bem, eram tão amigos que ele se referia à ela como “cunhadinha”, demonstrando profunda intimidade. Intimidade inexistente na vida social da época. Não era comum que um homem fosse tão amigo de uma mulher em pleno século XIX. As relações entre homens e mulheres baseavam-se, normalmente, nos vínculos familiares.
Sobre essa relação suspeita entre Capitu e Escobar, convém mencionar dois acontecimentos marcantes e reveladores. O primeiro diz respeito ao dia em que Bentinho percebera sua mulher calada e pensativa. Fitava o mar com um ar apaixonado e parecia voar longe. Foi depois que Bentinho descobriu que Escobar estivera em sua residência, naquela tarde, para tratar de finanças, segundo Capitu. Sua esposa teria omitido o caso, se não fosse pela percepção de Bentinho. O segundo caso torna a inocência de Capitu algo inaplicável. Deu-se que, combinados de ir ao teatro, Capitu disse a seu marido que estava com dores de cabeça e que não se sentia bem a ponto de acompanhá-lo. Bentinho, preocupado com sua amada, ofereceu-se para ficar, mas foi logo dissuadido pela esposa, que insistiu que fosse. Ainda preocupado, Bentinho retorna a sua casa ao final do primeiro ato e surpreende Escobar a porta de sua residência dizendo querer tratar de negócios com Capitu, que, por sinal, já estava se sentindo muito bem. É difícil aceitar que acontecimentos como tais possam ser considerados mera coincidência.
Voltando à história, Capitu e Bentinho, após inúmeras tentativas frustradas, têm um filho,  Ezequiel, que se parece muito com o amigo Escobar. Algum tempo depois, Escobar morre afogado. Bentinho, até então cego de amor, não havia enxergado a malícia em seu amigo. Preparou-lhe um discurso e um belo funeral. Ao observar Capitu, percebe que a esposa fitava o cadáver apaixonada e fixamente, apesar de tentar esconder suas lágrimas, como se estivesse tentando esconder suas emoções. A partir desse ponto da narração, todas as atitudes suspeitas, citadas anteriormente, preenchem a cabeça de Bentinho e passam a atormentá-lo até que ele decida acabar com a relação existente entre ele e Capitu. Decisão essa que culminará na separação de suas vidas e ida de Capitu para viver na Europa, onde mais tarde vem a falecer. Ezequiel também morre no final do livro, vítima de lepra.
Este próximo parágrafo é dedicado à defesa do eterno apaixonado, Bentinho. Há quem cite, para difamá-lo, o episódio em que Bentinho vai assistir à peça de Shakespeare, Otelo, que trata de  uma história de amor intenso, que, por causa  do ciúme, acaba em morte. É inegável que Bentinho era ciumento. Porém, é inegável também que amor verdadeiro e ciúme andam unidos. O sentimento “amor” é responsável por atos e sentimentos explosivos, incompreensíveis por aqueles que nunca os sentiram. Tomemos como exemplo a obra de Romeu e Julieta, também de Shakespeare. Nela, o amor leva ao suicídio, uma atitude extrema. Tirar a própria vida, por amor, é um tema bastante explorado na literatura, quando se trata de um amor impossível. É por isso que afirmamos, leitores, que se Bentinho desejou, em algum momento, o mal de Capitu, foi por causa de atitudes inexplicáveis que acompanham um coração apaixonado. Bentinho não desejaria outra coisa – a não ser o bem de Capitu – se essa não tivesse dado motivos para acender nele o fogo do ciúme.
Após tantos indícios contra Capitu, é remota a chance de o leitor ainda achar que o adultério não faz parte da história de Bento e Capitolina. Concluímos, então, recuperando um ditado de sabedoria popular: “Onde há fumaça, há fogo”, querendo dizer que onde há tantas evidências, não pode haver dúvida.

Grupos: Camila, Clara, Daniela, Fabiana, Felipe, Giovane, Ícaro e Jéssica. Turma – 3º. A

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